terça-feira, 30 de agosto de 2016

Coisa estranha...

"Coisa Estranha

De repente, acordei com aquela coisa estranha...
A cama parece grande demais
Para se demorar
O pescoço reclamou:
Já não tinha mais a insistente marca.
O ventre rangeu, as costas estalaram
Mas era hora de levantar
Ainda que o humor não estivesse lá muito para a vida...
As sobrancelhas carregadas
Aquela marca insistente em meio aos olhos...
É aquela coisa estranha:
"O que foi? Tudo bem?"
"Sim, só uma coisa estranha, mas To bem"
Vai buscar na geladeira alguma coisa que preencha
Mas nem o fabuloso sanduíche nem o bolo de chilique com sorvete resolveram o problema...
Ainda estava lá, incomodando.
Começou a dar um enjoo
Nausea mesmo, a cabeça gritando
Mas até aí vc sabe que a menstruação tá por aí, e deve ser só mais uma enxaqueca...
Mas não, passou o dia assim
Estranha.
Estômago embrulhado
Coração apertado
Um misto de vontade de gritar,
Com preguiça de abrir a boca.
Tentou ver o que passava na TV
Mas quando perguntaram sobre o que era o filme
Não soube dizer ao certo.
Olhou pro livro
Revirou as páginas
Mas o estômago embrulhava de novo
"Não, hoje não tenho estômago pra nada, coisa estranha."
Pensou sentir fome, bebeu a coca cola
Mas mais que uma ânsia dentro dela reafirmava que não havia espaço para mais nada, então, nem comeu.
Fumou vários cigarros
Quis jogar os cigarros fora, pois eles aumentavam o esquisito
Recebeu feliz a ligação do amigo
Sorrir por horas
Não fingiu, a felicidade momentânea era sincera...
Mas era momentânea
Afinal.
Releu textos bonitos que falavam de amor,
Brincou com o amigo da estupidez de se sentir tão entregue.
Constatou esse estado estranho entre agonia e extrema felicidade...
De repente, foi se dando conta
Enquanto falava da vida
De você
Algo estranho rugia por dentro
Pensou que era fome, afinal nem comeu direito todo o dia...
Não, era uma coisa estranha.
Entediada por não fazer nada,
Mas sem vontade de fazer quase tudo.
O estômago gritava...
É que por ser tão intensa e autêntica, quando numa tentativa involuntária de disfarçar as coisas que sinto, meu corpo sinaliza
Grita
Joga mesmo na minha cara
Hahahahahahaha
"Alô minha filha, tá faltando alguma coisa! E não adianta fingir que não sabe Oq é!"
Meu corpo, tem vida própria, na maior parte das vezes...
A cabeça explode ou adormece, os olhos insurgem, as lágrimas represam
O peito acelera ou retarda o compasso
Num balando irregular
O estômago embrulha, grita de novo
"Tem algo faltando aqui."
E não é comida,
Pois só de pensar em degustar
Mesmo as cerejas
Ou os sorvetes comprados na compulsão,
Nada serve
Nada consola
Nada preenche...
Fica apenas aquela coisa estranha:
Um vazio que não pode ser preenchido
Nem os mais sensacionais livros
Nem os filmes revistos milhões de vezes
Nem a cama acolhedora, visto que mesmo com sono, não se consegue dormir
Nem o caderno de desenho hoje acalmou sinfonia do peito...
Puts, é sério.
Pegou o caderno, e a caneta também revirou a bile!
"Que porra é essa? Que coisa estranha!"
Na ida ao banheiro, sentiu o cheiro do cabelo...
Ah, os cheiros... Não há nada melhor no mundo para ativar memórias!
E constatou!
Evitou pensar nisso a semana inteira...
O olho, a mão, o cabelo,
Ouviu como num sussurro fantasmagórico
Aquele sorriso
Gostosa gargalhada
Ah,.
Cheirou o próprio cabelo novamente...
Inspirou profundamente,
Como pode o próprio cheiro te lembrar tanto de outra pessoa??
Talvez por isso a cama parecia enorme e estranha
Não tinha mais o cheiro seu.
Talvez por isso, os filmes ou livros não eram o bastante
Não era aquilo que aliviaria toda aquela ânsia!
Talvez por isso, o caderno de desenhos
Que tantas vezes era o maior e mais sublime transbordamento
Não satisfazia agora...
Chegou a empurrar o caderno, irritada.
E também, não havia comida nem coca cola que preenchesse aquele vazio
Um vazio sentido como barriga cheia...
Estava farta!
Cheia
Plena
Mas que de peito tão preenchido, que não havia espaço no estômago.
Por isso, quando durante aquele fia, tentara ocupar o tempo e espaço com qualquer coisa fútil, pra atrapalhar a percepção do passar das horas, sentira tanta nausea...
Não havia lugar para mais nada
Nem disposição para desperdiçar tempo com o que não estivesse realmente com vontade...
Aaah, vontade.
Era isso?
Passara as últimas horas daquele dia pensando
"Talvez, porque sou autêntica demais, devia fazer apenas ou comer apenas, o que tivesse vontade."
Mas era algo mais
Além das contadas vontades.
Era uma coisa estranha.
Então, pegou o telefone
Amaldiçoou a TPM que mexia com todas as suas vontades
Culpou a menstruação pelos desarranjos estomacais
Mais semelhantes a uma eterna birra entre a fome e saudade,
E, eita!
Coisa estranha...
É saudade!
E aí, chorei.
Passou o enjoo, o coração desexplodiu
Cheirei o cabelo de novo
Suspirei fundo esse cheiro de você
As lágrimas emergindo fácil,
Limpando o inteligível
Clareando a estranheza dessa sensação
Esse vazio, preenchido
Esse estômago vazio, queimando de tão cheio... insatisfação também ocupa um espaço enorme!
Essa cabeça dolorosa! Permeada de nadas,
Pois nada agora era você.
E ri de mim mesma
Entre as lágrimas bem vindas
Essa coisa estranha
Tão presente, tal pulsante, regurgitante, incomodando, tomando espaço, clamando vontades, cantando vazios, congelando camas e caminhos...
Era saudade!
Era um poço cheio de vontades, de você!"

Nane, 27/08/2016.

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